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Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. amanhã nunca se sabe: maio 2007

terça-feira, 29 de maio de 2007

Conclusão (dos 4 últimos posts)

A conclusão que podemos tirar dessas diferentes formas de noticiar o fato é que conforme o cliente, muda a forma da notícia e, quiçá, a notícia em si. Como diria Weber, a realidade é inatingível, diferente das balas de revólver.

Como Ramón Salaverría defende em seu texto “Los cibermedios ante las catástrofes: del 11s al 11m”, os jornalistas funcionam muito melhor sobre pressão, e adoram um acontecimento polêmico e com grandes repercussões. A quantidade de matérias publicadas nos diversos veículas de mídia digital confirma esse fato, e vai além: a vontade de escrever sobre o tema foi tanta, que muitas matérias se repetiram.

Outras tantas teses do autor se confirmaram: a internet está apta a registrar acontecimentos bombásticos em um curtíssimo tempo, sem prejuízo da qualidade da conexão dos servidores. Como em 11s e 11m, as notícias apareceram primeiro nos veículos digitais para só depois ganharem espaço nos impressos.

Os veículos brasileiros tiveram a missão de contextualizar para seus leitores os fatos ocorridos em outro país. Já os veículos americanos teveram um maior envolvimento emocional, ampliado pelo debate sobre violência nas Universidades que há muito tempo atormenta o país.

Mais é menos - G1

Cobertura do massacre na Virnia Tech feita pelo portal de notícias G1.

O massacre ocorreu no dia 17 de abril, uma terça-feira. No mesmo dia, às 7h52m, o G1 já registrava uma matéria da agência de informação AFP. No momento, ninguém ainda sabia as causas do ataque. Ainda se especulava se havia apenas um autor dos tiroteios. A jornalista Jocelyne Zablit, autora da matéria, fez questão ainda de dizer que a relação entre os dois ataques – um ocorreu duas horas depois do outro – ainda tinha que ser confirmada pela polícia.
É interessante registrar que hoje lemos no site a seguinte manchete de matéria escrita pelo G1 no dia 16, um dia antes da tragédia: “Pior tiroteio em universidades dos EUA deixa 33 mortos - Atentado ocorreu no campus da Universidade Técnica da Virgínia, em Blacksburg.” Interessante como o G1 foi tão rápido que registrou os ataques antes mesmo que eles ocorressem!
Apesar de não possuir infográficos, vídeos ou mesmo fotos, a matéria já lembrava os ataques de Columbine, no Colorado, 1999, fazia uma brevíssima descrição da Universidade da Virginia, e continha informações fornecidas por estudantes da universidade.

Hoje, já é incontável a quantidade de matéria sobre os ataques publicadas no G1. Um quadro interativo apresenta um breve histórico de cada vítima do ataque. O site proporcionou também que seus leitores conversassem ao vivo com brasileiros que estudam na Universidade. Esse chats ainda estão disponíveis em áudio e em texto. Um infográfico “Entenda como aconteceu o massacre na Universidade Técnica da Virgínia” mostra passo a passo dos ataques.

Até matéria com depoimentos do governo iraquiano e do Papa foram ao ar. O professor que foi morto enquanto bloqueava a porta para tentar salvar seus alunos recebeu uma matéria só dele, com informações sobre sua vida na Romênia, sobre sua família, sua religião, e suas dificuldades durante a 2ª Guerra Mundial.

O G1 ainda registra comentários de leitores, enquetes sobre a violência nos Estados Unidos, a polêmica sobre a legalização de posse de armas, uma biografia de Cho Seung-hui, os vídeos que ele enviou à rede de televisão NBC e comentários de especialistas sobre o que pode ter levado o sul coreano a realizar os ataques.

O sentimentalismo da CNN


O tiroteio na universidade Virginia Tech, em 16 de abril de 2007, repercutiu mundialmente, porém de maneiras diferenciadas. No Brasil, como os veículos dependiam somente dos órgãos de imprensa norte-americanos, o noticiário foi atualizado lentamente e de maneira desordenada. Já na CNN, o massacre conduzido por Cho Seung-Hui ganhou destaque primeiramente na rede televisa; depois, o site passou a repercutir os boletins especiais dado pelos repórteres no ar.

Após interromper a ordem do dia na rede televisiva, o site da CNN passou a dar enfoque especial para o acontecimento, criando uma página específica para a cobertura. Isso permitiu uma interatividade grande entre os leitores. Fato curioso é a sessão I-Report, que permitia a exposição de testemunhas oculares se pronunciarem sobre o acontecimento através de mensagens de celular, vídeos amadores e outros.


Com o esfriamento do caso, o site de uma das principais cadeias de notícia dos EUA passou a dar destaque para fotos do atentado, vídeos mandado pelo próprio atirador à rede NBC (fato que, isoladamente, seria interessante de analisar como ele já previa uma cobertura maciça). A CNN também optou por criar, de forma sentimentalista, uma página dedicada a recontar a história do massacre em Virginia Tech.

BBC

Há muitas maneiras de se noticiar um fato. Poderíamos até discutir de antemão o quanto a cultura local ou os "costumes jornalísitcos" locais podem influir, mas a verdade é que existe muita diferença entre um veículo e outro. Enquanto alguns transformam uma notícia grande e triste em uma novela mórbida e sentimentalóide - eles noticiam SIM, mas fazem propositalmente um jogo tocante que sem dúvida altera a percepção de quem lê ouve ou assiste - outros adotam uma postura mais "fria", algo que pode fazer com que o leitor (vamos chamá-lo assim) tenha mais independência... receptiva.

Um exemplo bastante relevante é o ataque de 16 de abril de 2007 à Universidade de Tecnologia de Virginia, EUA.

O site da BBC adotou uma postura bastante eficiente, no sentido de que disponibilizou no site vídeos (inclusive trechos do vídeo que o estudante mandou a uma emissora) e análises de especialistas sobre a chacina. Houve uma cobertura extensa e bastante detalhada - mas parou por aí. Não foi criado nenhum hotsite nem um especial em memória das vítimas. Essa postura talvez tenha sido adotada pelo caráter "universalizador" do site da British Broadcast Corporation já que existe um menu ao lado das notícias em que pode-se escolher o continente. A partir daí há uma quantidade de assuntos a selecionar.

O site se faz eficiente e faz questão de provar que notícia é apenas notícia - o tempo passa e elas também.

Abordagem diversificada na Folha Online


(Tópicos relevantes da cobertura em mídia digital da Folha Online. A análise está em itálico, abaixo de cada tópico.)

Enquete: "Massacre na VirgíniaA Universidade Técnica da Virgínia foi cenário nesta segunda-feira do pior ataque a tiros da história dos Estados Unidos. Na sua opinião, o que deve ser feito para prevenir que atos de violência voltem a ocorrer dentro de universidades americanas?
- Criar grupos de apoio psicológico para estudantes
- Revistar bolsas e mochilas nas entradas dos prédios universitários
- Instalar detectores de metal em todos os prédios universitários
- Aumentar o policiamento e instalar câmeras dentro dos campi
- Restringir a venda de armas de fogo nos Estados Unidos"

A interatividade, possibilidade ímpar da mídia digital, foi bem aproveitada na cobertura da Folha Online dos ataques a Universidade da Virgínia. Foi realizada uma enquete que convidava o internauta a eleger qual seria uma solução possível para os recorrentes casos de violência em universidades americanas. As respostas possíveis são diversificadas e os resultados ficam disponíveis para acesso.

Seções:
Brasileiros
Cronologia dos ataques
Dê sua opinião
Galeria de imagens
Mapa da universidade
Opinião
Perfil do atirador
Saiba mais sobre a universidade
Saiba mais sobre armas nos EUA
Sites relacionados
Vítimas

As possibilidades de abordagem oferecidas pela mídia digital refletem-se na diversidade de abordagens que a Folha Online deu para o caso. Após a cobertura extritamente noticiosa, as primeiras chamadas que informavam o número de vítimas e a possível identidade do atirador, o site foi mais fundo. A relação de brasileiros com o ataque é um viés relevante, já que tem uma proximidade simbólica com os leitores do Folha Online. Foi aberto espaço para a opinião do público, em sua maioria indignado com o acontecimento. Criaram-se links para a cobertura de outros sites. Para discutir a questão de maneira profunda, a Folha deu um panorama sobre as armas nos EUA e sobre a própria Universidade de Virgínia.

Imagens e infográficos:
Galeria Foto 3 - Cho Seung-hui, o atirador da Virginia Tech, aponta a arma para sua cabeça. (Mais recente).
Galeria Foto 2 - Alunos reunidos no Memorial da Guerra da Virgínia Tech, nos Estados Unidos, fazem vigília por mortos e feridos no massacre.
Galeria Foto 1 - Feridos são socorridos em campus na Virgínia após homem armado matar dezenas de pessoas. (Mais antigo).

A cobertura fotojornalística começou quando a polícia encontrou os corpos dos estudantes. Nas primeiras fotos, o enfoque foi nas vítimas. Depois da grande repercussão do caso, a Folha Online continuou a publicar imagens sobre o caso. Os alunos da Universidade que choraram a morte dos colegas foi o segundo enfoque das imagens. Por fim, depois de descobertos todos os vídeos e fotos que o atirador mandou para a imprensa americana, todos os sites repercutiram esse fato. Além das fotos, foi essencial para a cobertura da Folha Online a publicação de um infográfico com um mapa da universidade e os horários dos ataques. A distância entre os prédios da universidade e o tempo que passou entre os tiros no dormitório e os do prédio de engenharia eram informações essenciais para entender o trabalho da polícia e o próprio preparo americano para enfrentar esse tipo de situação limite.

Tempo: "Segunda-feira (16 de abril) - Às 7h15 locais (8h15 de Brasília), a polícia recebe um telefonema de alguém que ouvira tiros num dormitório do campus do Instituto Politécnico da Virgínia (Virginia Tech). Ao chegar no local, a polícia encontra duas pessoas mortas. Duas horas depois, enquanto a polícia ainda investigava o primeiro ataque, um segundo tiroteio começa no prédio da escola de engenharia, no outro lado da universidade. Desta vez, ao chegar ao local, a polícia se depara com uma tragédia: 31 corpos, entre eles o do atirador, que desferiu um tiro contra seu próprio rosto, deixando-o desfigurado."

Como em 11m e 11s, o ataque ocorreu em um espaço de tempo no breve, algo em torno de três horas. Discutiu-se depois que o segundo lance de tiros, que matou muito mais alunos, poderia ter sido evitado. Para a cobertura jornalística, porém, o tempo que se passou desde a notícia do ataque até seu desfecho é considerado curto. Os jornais impressos não tinham condições de fornecer informações sobre o acontecimento. No caso da Folha, a versão Online antecipou a cobertura que a Folha impressa faria no dia seguinte. A mídia digital foi a maior fonte de informação nesse caso.